Pagar à vista ou parcelado: financeiramente, qual é a melhor decisão?
- Ingo Zietemann, CFP®
- 14 de fev. de 2020
- 3 min de leitura
Uma dúvida muito comum dos meus clientes é se compensa financeiramente pagar uma despesa em parcelas e manter o dinheiro aplicado rendendo juros, ou se é mais vantajoso pagar à vista e agarrar o desconto.
Vamos utilizar o IPTU como exemplo. No município de São Paulo o boleto do imposto vem com a opção de pagar o valor cheio em 10 vezes ou então à vista, com 3% de desconto.
Apesar de a taxa Selic estar em 4,25%a.a. quando este artigo foi escrito, maior que os 3% do desconto, poderia parecer que o nosso dinheiro renderia mais durante o ano do que a economia com o desconto, e assim nos levar a crer que valha a pena pagar o IPTU em parcelas enquanto ganhamos juros. SQN
Existem alguns fatores a serem considerados:
Quanto o nosso dinheiro rende Depende de onde está aplicado. Como para a opção parcelada será necessário resgatar mensalmente o valor de cada parcela, não seria indicado que o dinheiro estivesse investido em aplicações com maior risco e nem aquelas sem liquidez. Vamos então considerar alguma aplicação pós-fixada, que acompanhe o CDI ou a taxa Selic, e com liquidez.
Impostos sobre os rendimentos Temos que levar em conta também que a maioria das aplicações sofre incidência de impostos. Temos que descontá-los dos juros recebidos.
Datas dos pagamentos Esta é a grande questão que passa despercebida! Embora o pagamento em parcelas leve (no exemplo) 10 meses para terminar, o vencimento da primeira parcela costuma ser o mesmo do pagamento à vista. Assim, referente a esta parcela não há que se falar em juros a ganhar, pois o valor desta parcela não ficará aplicada por nenhum período. E o que acontece com as demais parcelas? A 2ª ficará aplicada por apenas 1 mês; a 3ª por 2 meses; e assim por diante. A 10ª e última parcela ficará aplicada por 9 meses, e não 10!
Tamanho da reserva financeira Se você tiver que usar toda a sua reserva financeira para pagar a despesa à vista, é melhor pagar de forma parcelada. Isto porque, se correr qualquer imprevisto e você precisar de dinheiro, terá que fazer um empréstimo, e o valor desperdiçado com juros (muito provavelmente) será bastante superior ao desconto obtido. Ficar sem reservas, jamais!
A saída é calcular a taxa de juros que faz com que seja indiferente qual a forma de pagamento escolhida, e comparar esta taxa de equivalência (TIR) com a taxa liquida que as nossas aplicações rendem.
Para o exemplo, os 3% de desconto à vista contra uma serie de 10 parcelas (9 meses de rendimentos) significam uma taxa implícita de desconto de 8,5% ao ano, ou seja, o dinheiro que será usado para pagar o IPTU - e não a carteira de investimentos toda - teria que render, líquido de impostos, mais do que estes 8,5% no ano para compensar pagar o IPTU em parcelas. Não sendo este o caso, é financeiramente melhor pagá-lo à vista!
É comum se ver falar em um desconto de 5% ou até 10% para compensar pagar à vista, mas não existe um número mágico, fixo, para usar como referência. Como visto no exemplo, os 3% de desconto são interessantes, já que a taxa de juros está baixa.
Vale lembrar que o resultado sempre vai depender do tamanho do desconto à vista, da quantidade de parcelas e de quanto as nossas aplicações renderiam neste período, já descontados os custos e impostos. Sempre que estes parâmetros mudarem, teremos que refazer as contas.
Para simplificar a vida, os meus clientes recebem uma planilha que faz esta análise e já mostra a conclusão, que no caso do exemplo é: “PAGAR À VISTA”. \o/
Por fim, é claro que só tem este “agradável problema” quem já tem todo o dinheiro para conseguir pagar a despesa à vista, porque se não o tiver, será levado a pagar de forma parcelada, mesmo se isto for financeiramente menos interessante.
No próximo post irei mostrar como se organizar durante o ano para poder aproveitar estes desconto no início do ano seguinte. Acompanhe... e coloque em prática!
A escolha é sua ;-)
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