Meu dinheiro corre riscos em uma corretora?
- Ingo Zietemann, CFP®
- 17 de nov. de 2020
- 4 min de leitura
Investir ainda é um atividade que traz receios para muitas pessoas. Afinal de contas, ninguém quer correr o risco de perder seu suado dinheiro, não é mesmo?
E uma das preocupações bastante frequente dos clientes quando recomendo abrirem conta em uma corretora é: “mas... e se a corretora quebrar?”
Já falamos que as corretoras são um melhor lugar para investir em relação aos bancos tradicionais, pois elas precisam oferecer condições melhores (ganhos maiores), para atrair os clientes. E como fica a preocupação de ver seu dinheiro “sumir” no caso de uma crise na instituição?
Para simplificar, eu gosto de fazer uma analogia entre a corretora de investimentos e o corretor de imóveis, por ser este último algo que já faz parte do nosso cotidiano.
Por acaso você pede as certidões negativas do corretor de imóveis quando você vai comprar ou vender uma casa? Com bastante confiança posso supor que não, estou certo?
Isto se deve ao fato do negócio se dar entre comprador e vendedor, sendo o corretor o intermediário entre os dois, aquele que apresentou as partes que farão negócio entre si. E por esta razão, o corretor tem direito a uma comissão. Se o corretor tem dívidas ou não, está inadimplente em suas obrigações, se inclusive está insolvente (falir em suas finanças pessoais), ou se tem um grande patrimônio pessoal, isso não faz diferença nenhuma para o comprador e vendedor do imóvel!
Com as corretoras de investimentos acontece a mesma coisa. Elas são o intermediário que une as duas pontas que irão negociar um investimento: nós, que somos o comprador do investimento, e a outra parte, o vendedor do investimento, que pode ser:
um banco, oferecendo títulos de renda fixa (CDB, LCI, LCA, etc);
uma indústria (ou outra empresa), oferecendo uma debenture;
o Tesouro Nacional do Brasil, que oferece seus títulos públicos às pessoas físicas por meio do programa chamado Tesouro Direto;
uma gestora, oferecendo seu(s) fundo(s) de investimento;
uma outra pessoa que, através da B3, nos vende um ativo que ela já possuía, como a ação de uma empresa, um fundo imobiliário ou outros ativos (ETF, BDR, opções, futuros, etc) negociados na bolsa;
uma seguradora, oferecendo sua(s) previdência(s) privada(s);
dentre outros...
Deu pra perceber que a corretora (algumas se chamam Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, DTVM na sigla) está apenas "conectando as pontas"? Como ela não está nos vendendo algo que é dela, o nosso dinheiro, enquanto estiver aplicado, não estará com ela, mas sim aplicado no produto final que compramos. Evidentemente, cada produto tem seus riscos específicos, e é com eles que temos que nos preocupar, e não com o intermediário que está permitindo que façamos este "negócio de investimento"!
Conforme crescem, algumas corretoras passam a criar suas próprias empresas para competir com estas “pontas finais”, os vendedores dos investimentos nos quais aplicamos o nosso dinheiro, passando a ter então a sua gestora, a sua seguradora, criando fundos próprios, etc. Entretanto, repare que estas empresas não são a corretora e sim outras empresas do mesmo grupo. Ao investir nestas empresas temos sim que nos preocupar com o risco desta empresa quebrar, assim como fazemos nos demais casos citados anteriormente, mas continua não sendo crítica a preocupação de a corretora quebrar.
Uma consideração importante é verificar se a corretora possui selos de qualidade, como o “Certifica” da B3, que indica que as aplicações que fazemos nesta corretora são de fato feitas, trazendo proteção contra fraudes por parte da corretora. Estes selos são exibidos pelas corretoras com orgulho, então será fácil descobrir qual tem e qual não tem. Através do CEI, o Canal Eletrônico do Investidor, também é possível verificar se as aplicações que fizemos constam mesmo em nosso nome, uma espécie de auditoria que está ao nosso alcance.
Ok, já entendi, mas ainda assim eu quero saber: o que acontecerá se a corretora onde eu invisto quebrar?
Nada mudará para os seus investimentos. Você terá que solicitar a alteração da custódia deles, o que é um processo burocrático e que leva alguns dias. É chato, mas o seu investimento continuará lá, nas mesmas condições. Voltando à analogia, digamos que seria como se a imobiliária que administra o seu contrato de aluguel falisse. Você vai ter que encontrar outra imobiliária para continuar prestando esse serviço para você, mas o seu imóvel, o seu inquilino e o seu aluguel continuam lá, normalmente...
O que está em risco é o dinheiro que você tem parado na conta da corretora, aquele que não está investido. Seria como se o aluguel que você está prestes a receber ainda estivesse com a imobiliária quando ela faliu, ou se você quisesse comprar um imóvel (um investimento), tivesse entregado o seu dinheiro ao corretor de imóveis (à corretora de investimentos), mas ainda não decidiu qual imóvel (investimento) comprar. Caso a corretora decrete falência justo nessa hora, o seu dinheiro estará lá no meio do bolo, e você será um credor da massa falida. Por isso, como regra básica, evite deixar dinheiro parado na conta da corretora, e não apenas para evitar este risco da falência, ainda mais concretamente, para evitar que ele fique sem render mesmo!
Portanto, vale sim ter alguns cuidados, como escolher uma corretora que possui selos de qualidades e ter um plano de investimentos a seguir para não ficar indeciso e demorar muito tempo para decidir em qual produto investir. Mas não é necessário “puxar toda a capivara da corretora” e analisar seus balanços para obter a segurança necessária para investir.
Faz mais sentido se preocupar com o nível de qualidade e satisfação no atendimento prestado ao cliente e avaliar as reclamações em sites como o ReclameAqui do que se preocupar com a saúde financeira da corretora. E, evidentemente, saber em qual produto investir e quais riscos está correndo!
Por falta de esclarecimentos em torno desta preocupação, muitas pessoas continuam investindo diretamente nos bancos, sem entender que o que realmente traz riscos é o tipo de investimento que fazemos, e não o local onde fazemos este investimento. Um consultor de investimentos pode te ajudar a tomar com segurança estas decisões tão importantes.
Com educação financeira superamos estes mitos, fazemos investimentos melhores e ainda por cima afastamos monstros e fantasmas que só existem na nossa cabeça, por falta de conhecimento!
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