Como montar um orçamento sobrevivência para a crise
- Ingo Zietemann, CFP®
- 16 de jun. de 2020
- 4 min de leitura
A pandemia do coronavírus impactou - e ainda impacta - drasticamente a economia mundial, e milhares de pessoas perderam o emprego, ou foram afetadas pela Medida Provisória 936, que autorizou cortes de jornadas e de salários dos trabalhadores.
Se você faz parte desde grupo que perdeu metade da renda ou mais, separei algumas dicas para te ajudar a montar um "orçamento sobrevivência"! O objetivo é que com planejamento e cortes inteligentes você saia desta crise com pouco ou nenhum rombo financeiro, mas não será sem esforço! Esteja preparado para abrir mão de coisas, e se concentre no fato de que será melhor assim, por escolha agora, do que por obrigação depois, como consequência do endividamento resultante por não ter agido quando era tempo. Vamos lá?
Liste TODAS as suas contas e priorize as essenciais (água, luz, aluguel, condomínio, alimentação, plano de saúde, etc). Em um primeiro momento é fundamental saber quanto cada coisa custa, para então começar a cortar, começando pelos valores maiores e também pelos gastos eletivos - aqueles que a gente escolhe fazer;
Pesquise alternativas para adiar pagamentos. Exemplo: para quem mora em São Paulo, a companhia de energia, Enel, não irá cortar o abastecimento de quem estiver inadimplente nesses meses de isolamento. Esse é o tipo de conta que pode ser adiada para priorizar compra de comida e pagamento do plano de saúde, item essencial;
Estique os pagamentos: não recomendo cortar seguros, mas sim pagar em mais parcelas (geralmente até 12), mesmo que tenha incidência de juros, pois não costumam ser altos quando comparados a juros de empréstimos bancários, que você poderia acabar precisando por não ter alongado estes pagamentos;
Troque pagamentos anuais por mensais sempre que tiver a opção (comuns na contratação de apps, serviços e seguros de vida), mesmo que tenha que abrir mão do desconto no plano anual. Vale o mesmo princípio: fugir da necessidade de empréstimos!
Gaste as coisas que já tem antes de comprar novas. Isso vale sempre, para bens duráveis, como roupas, móveis, eletroeletrônicos, e agora podemos estender isso também à nossa despensa, utilizando a comida que já temos em casa primeiro para só depois comprar mais. É o que chamo de "esvaziar os armários". Assim evitamos desperdícios e jogar comida fora porque venceu;
Bancos passaram a permitir o adiamento de financiamentos e empréstimos em até três parcelas, a serem pagas com juros no fim do contrato. Se você não tem reservas e precisa cortar, pode ser uma alternativa (preste atenção nas condições. Aqui tem mais dicas);
Mora de aluguel? Tente negociar com o locatário - assim você poupa dinheiro e não perde a moradia (também tem algumas dicas de como fazer isso aqui);
Paga condomínio? Avise que não conseguirá pagar enquanto a sua situação estiver assim. Alguns condomínios que possuem condição financeira confortável inclusive abonaram os condôminos da taxa por um mês. Proponha isso ao conselho do seu condomínio para que verifiquem se conseguem fazer o mesmo;
Paga escola? Explique a sua situação e peça um desconto!
Tem empregados domésticos registrados? O governo permitiu, para quem se cadastrar, adiar e parcelar o pagamento, sem multa e encargos, do valor referente ao FGTS, que é quase a metade do valor do eSocial;
Tem bens para vender? Coleção de itens? Quinquilharias que não usa? Ou mesmo um carro ou moto? Considere vender, sabendo que não será para sempre. Se for realmente importante para você, você certamente reconquistará estes bens, e ainda por cima poderá comemorar novamente esta (re)conquista, ou ainda poderá comprar outro melhor.
Os chineses tem um ditado que gosto muito: Não podemos colocar chá quente numa xícara que está cheia de chá frio! Desapegue e se abra para o novo ;-)
Depois de mapear todas estas informações e avaliar quais conseguiu reduzir ou adiar, veja quanto sobrará das suas entradas e o quanto será consumido pelos gastos essenciais.
Aproveite para olhar para os gastos com aquela pizza do fim de semana, delivery, aluguel de filmes e os diversos serviços de streaming e apps que quase não usa. Eventualmente, escolha manter um (se conseguir) e cancelar os demais. Faça aquela tarefa chata, que você sempre adiou por falta de tempo, que é ligar para as companhias de telecom e reduzir seu plano de televisão, de internet e de celular. Afinal de contas, com o isolamento, estamos praticamente sempre em um local com WiFi e usamos pouco dos dados celular, né?
Para quem tem zero reservas, uma recomendação extra: fazer um esforço ainda maior para não só "empatar" no mês, mas conseguir economizar um pouco e criar uma reservinha para o próximo mês. Não sabemos quanto tempo a crise irá durar e se nossa renda continuará estável (mesmo que reduzida) nos próximos meses! Se você conseguiu poupar um pouco, o conselho de enxugar os gastos também vale, hein?
Mesmo com todos os cortes o dinheiro não deu? Procure sua rede de apoio - pais, parentes, amigos que possam te emprestar algum dinheiro sem juros e sem prazo de devolução. Neste período a solidariedade deve falar mais alto, e quem tem mais é chamado a ajudar quem tem menos. Em último caso, busque um empréstimo, mas negocie o máximo que puder para que a dívida não se torne algo assombroso lá na frente. Se tiver bens (veículo quitado) para dar em garantia, conseguirá taxas mais baixas. Vale lembrar que a nova parcela desse empréstimo vai piorar a sua situação financeira, que já não era fácil. Então lembre de levar isso em conta quando for calcular quanto dinheiro precisa e também para definir em quantas vezes pagar, de forma a contratar uma parcela que seja viável no seu orçamento!
Por fim, gostaria de levantar um ponto importante, que pouca gente dá atenção, especialmente neste período.
Se o seu orçamento permitir, ou seja, se o pagamento de todas as suas contas essenciais estiverem garantidas e você ainda tiver reservas financeiras para vários meses, mantenha ou até aumente as suas doações. Apesar da palavra de ordem ser cortar, uma outra palavra não pode ser esquecida: GENEROSIDADE.
Isso mantém a roda da economia girando e, principalmente, o astral positivo. Sentir que você ainda tem o suficiente para ajudar alguém que necessita aquece o coração e dá energia para correr atrás da mudança e de tempos melhores. Faça jus à sua situação privilegiada!
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